A Serra de Caldas 484v2a

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Na coluna anterior, visitei a Serra Dourada no norte de Goiás. Falo agora da Serra de Caldas, no centro goiano, onde existe uma reserva peculiar. Seu cerrado sofrido me fez refletir como a natureza, mesmo parecendo igual, nunca se repete. 5v4m5r

A Serra de Caldas

A cerca de 300 km a sudeste de Goiás Velho existe uma serra muito interessante. Ela fica perto de dois conhecidos pontos turístico: Caldas Novas e Rio Quente.

Lá concorridos parques temáticos com banhos hidrotermais procuram imitar a natureza por eles substituída. Fiquei pensando como é curioso desfigurarmos a natureza para depois tentarmos recriá-la.

Serra de Caldas, Goiás (Fonte – Divulgação).

A serra é protegida por um parque natural, criado em 1970 com 12 mil ha – trata-se do PESCAN, que significa Parque Estadual da Serra de Caldas Novas.

O Parque está encaixado exatamente entre as vilas de Rio Quente a oeste e Caldas Novas a leste, como um tabuleiro de orientação N-S. Sua área inclui não só o platô central, mas também as fraldas da serra, até chegar ao nível dos planaltos urbanos.

Perímetro do PE Serra de Caldas Novas, GO (Fonte – ).

Esta Serra é surpreendente, pois constitui um chapadão completamente plano com um perfeito desenho oval, circundado e fechado por escarpas em todo o seu perímetro de talvez 30 km (ver figura).

Cachoeira da Cascatinha, PE Serra Caldas Novas, GO (Fonte – Secima).

No seu interior não há nenhum curso d´água, apenas um cerrado áspero, forte e retorcido na altitude de mil metros (o ponto culminante fica a 1.043 m). Você pode visitar duas pequenas quedas, numa caminhada total de menos de 4 km, que começa logo após a portaria.

É exatamente essa superfície que tem capturado há milênios as águas das chuvas, permitindo que se infiltrem a grandes profundidades pelas fraturas do quartzito existente – até que sejam aquecidas pela energia geotérmica e mineralizadas pela diluição das rochas, retornando à superfície como as nascentes quentes que fazem a delícia dos visitantes.

Encosta do PE Serra Caldas Novas, GO.

Gostaria de fazer um comentário, que só me ocorreu após retornar dias depois da visita à Serra. Refere-se à diversidade aparentemente monótona do cerrado. Lembrei-me de duas ocasiões em que tive esta mesma impressão.

A primeira aconteceu ao atravessar a Floresta Amazônica, no rumo do Pico da Neblina. Ela me pareceu inicialmente homogênea. Até que comecei a perceber a diferenciação entre a mata rala e alagada dos igapós e as densas formações das várzeas somente inundadas nas cheias.

E também entre a grande floresta vertical de terra firme, a baixa mata montana repleta de líquens e bromélias e, finalmente, os arbustos de altitude, estranhamente povoados por palmáceas.

Mirante da Trilha do Paredão, PE Serra Caldas Novas, GO (Fonte – Divulgação).

De novo, a sensação de monotonia me ocorreu no deserto verde do Jalapão. Mas, com o tempo, notei a diferença entre o cerrado mais alto e verde do seu centro, as formações mais secas e fechadas do início e os cerrados de campo limpo entre ambos, em que os arbustos eram na realidade árvores anãs.

E vi as cativantes veredas, formadas por várzeas de buritis, um panorama verdejante que contrastava com a dura vegetação ao redor, num mosaico de fartura intercalado com a palha dos campos secos.

Agora, percebo como eram distintos os cerrados das Serras Dourada e de Caldas. Este último, confinado num tabuleiro alto e seco, era composto por árvores pequenas, de poucas folhas, esparsamente dispostas num campo pálido, com limitado contraste de cores e pouca presença de flores.

A Serra Dourada tinha árvores mais fortes e expressivas, muitos arbustos floridos e gramíneas verdejantes, ao longo dos campos ondulados, pedregosos e úmidos, com a formação de esplêndidas veredas de altas palmeiras.

Aprendi algo que já devia saber, que a natureza nunca é a mesma.

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Sobre o autor 6m6940

Nasci no Rio, vivo em São Paulo, mas meu lugar é em Minas. Fui casado algumas vezes e quase nunca fiquei solteiro. Meus três filhos vieram do primeiro casamento. Estudei engenharia e depois istração, e percebi que nenhuma delas seria o meu destino. Mas esta segunda carreira trouxe boa recompensa, então não a abandonei. Até que um dia, resultado do acaso e da curiosidade, encontrei na natureza a minha vocação. E, nela, de início principalmente as montanhas. Hoje, elas são acompanhadas por um grande interesse pelos ambientes naturais. Então, acho que me transformei naquela figura antiga e genérica do naturalista.

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